Ontem,
eu era apenas um menino. Sem grandes preocupações, sem saber o que queria da
vida. Tinha alguns poucos brinquedos, e era o que bastava para que eu fosse
feliz! Lembro especialmente de um caminhãozinho de plástico de cor azul que eu
chamava de “Fon-fon” (este nome, é claro, nada mais era do que a minha
interpretação da buzina de um caminhão de verdade). Acordava cedo, amarrava uma
cordinha na frente do pequeno veículo e conduzia-o estrada afora, indo e
voltando em frente a minha casa! Nem as manhãs geladas de inverno me impediam
de fazê-lo! Até era mais interessante, pois a neblina pesada fazia as coisas
desaparecerem conforme eu delas me afastava, e isso era mágico! Mas mágico
mesmo era o fato de todos meus brinquedos outrora terem possuído vida própria. Todos
tinham nomes, família, origem, idéias, personalidades e vozes distintas! Todos
eram meus grandes amigos! Hoje, no entanto, estão todos encaixotados e
guardados no porão da minha casa.
O
que houve com a vida que dentro deles habitava? Como é possível que já não mais
conversem comigo? Como é possível que eu já não possa mais compartilhar meus
segredos mais profundos com eles? O que houve com os meus brinquedos? Estão
mortos? Ohh nãããoo!!! Não pode ser isto! Eles eram parte de mim. Então, se a
vida que dentro deles habitava morreu... isso significa que parte de mim também
está morta? Será mesmo essa a verdade? E se eu fosse até o porão, os tirasse da
caixa onde jazem e os ressuscitasse? Será que tenho este poder? Hummm... creio
que não! Eu há muito tempo que abandonei meus amigos-brinquedos! E depois de
tanto tempo, não há amizade que retorne. Sabem... a amizade é um tipo de amor.
O maior deles. E todo amor é como uma linda plantinha em um vasinho: por mais
bela que ela possa ser, se ficar muito tempo sem ser regada... ela murcha, fica
feia, e depois morre. Portanto... concluo que fui eu que deixei que minha
amizade pelos meus brinquedos morresse! Sou eu o culpado por tê-los
abandonado. O amor pelos meus brinquedos
é a plantinha que eu deixei de regar. Ela murchou, e já não vive mais (pausa
para as lágrimas, hehe).
Sabem...
pensar nos meus brinquedos abandonados me faz entristecer. Mas se perdi
amigos-brinquedos, hoje tenho amigos de verdade! E vou fazer (assim como espero
que você também faça) de tudo para que, daqui a alguns anos, eu não precise
parar para pensar nesses amigos de verdade e lamentar da mesma forma que faço
em relação aos meus amigos-brinquedos! Já deixei algumas plantinhas murcharem e
não vou permitir que aconteça com mais nenhuma! Na verdade, assim como meus
amigos-brinquedos estão encaixotados, meus amigos de verdade também estão
guardados. Estes, porém, depositei em um lugar muito mais nobre: guardei-os há
muito no meu coração, tranquei e joguei a chave fora e, portanto, de lá não
podem mais sair!
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